terça-feira, 25 de junho de 2013

Já faz tanto tempo...

É, fazem uns 5 meses, ou 6.
Eu devia ter escrito pra família, pra amigos, pra quem quisesse ler, mas eu tava sem saco, sem tempo, sem palavras o suficiente pra escrever.
Aliás, não sei, acho que palavras é algo que nunca me falta, nunca me faltou. Deveria falar menos, escrever menos, e deixar que elas gritassem menos na minha cabeça. Minha mente está sempre produzindo textos profundos para si própria de como eu realmente me sinto. Bons textos, eu juro, mas que na verdade quase nunca vão para o papel.
Mas hoje decidi escrever porque estou nostálgica, porque estou com saudades e porque eu estou confusa. E parte ruim desse intercambio é que na maior parte do tempo você não tem pra quem contar suas conquistas e suas derrotas, você não tem como ligar pro seu amigo de anos e contar seus problemas tomando uma cerveja. Contar as coisas pelo telefone e facebook na verdade me cansa e irrita, sei lá porquê.
Mas amanhã fazem 5 meses que meu passaporte foi carimbado, e daqui 7 meses meu programa acaba. Meu inglês vai muito bem, obrigada. Muitíssimo bem. Nunca imaginei que estaria tão bom em apenas 5 meses, e também nunca imaginei que ouvir de english-speaker "Você está aqui há só 5 meses? Mas como você conseguiu um inglês tão bom? Você já sabia quando chegou aqui né?" fosse tão satisfatório. Talvez eu seja boa nesse negócio de aprender línguas, só nisso né?! E contabilidade.
Mas ai tá, família, amigos: eu bebi, eu fiquei muito doida, eu fui pra festa todos os dias da semana, eu deixei de dormir e fui direto pra aula com a roupa da balada muitas vezes, viajei, conheci gente e me maravilhei com as facilidades da vida européia (e ainda continuo fazendo); e eu estudei, estudei, corri atrás, andei e ando muito tempo pra economizar o dinheiro do ônibus, cuidei de criança fazendo birra até ficar irritada ao ponto de tapar os ouvidos e espirar fundo 20 vezes, lavei e lavo muito prato na água fervente até a mão ficar roxa, inchada e a coluna doer. As unhas bonitas não existem mais, deram espaço pros cortes nos dedos. E ai que comprei tudo o quis.
Antes tava frio o tempo todo, e quando eu digo frio, eu quero dizer frio-para-caralho. Agora tá calor, tipo Brasil quando tá chegando inverno e fica nos 18/20º. Gostoso, mas dá pra ficar suada e isso não é legal, not fun at all. Dá inclusive pra ir pro parque pegar um sol e voltar com marca de camiseta. Me disseram pra aproveitar porque o "verão" aqui não dura muito mais do que 2 semanas...
Verão, saudade do verão, de praia, de boate-sauna, dos meus amigos, da minha família e de quem eu amo. Saudade de carinho, de afeto, de alguém pra contar, de horas de conversa, de confidencias, de olho no olho. Saudade de beber tequila até não enxergar mais nada com as amigas e ficar sóbria de novo, juntas. Saudade da faculdade e da dificuldade da vida. Saudade e ao mesmo tempo a vontade de ficar, e sem ter pra quem perguntar se eu deveria ou não. Muita gente que chegou comigo está indo embora agora, e eu mudo de idéia todos os dias. Posso voltar e continuar tomando no cu na faculdade até terminar, ou posso ficar e começar uma nova aqui - e pagar caro por isso -, mas viver confortável, e longe de todo mundo, e enfiar todos os meus planos que envolviam pessoas do Brasil no saco. Anyway, drama time.
Não vou conseguir atualizar 6 meses de vida em um texto, e acho que nem é isso que queria. Divido apartamento com outras 3 meninas, 2 fixas e 1 que geralmente muda. Kátia é brasileira e em certos pontos muito parecida comigo, ou com o que já fui e o engraçado que quando ela conta o que ela já viveu, se assemelha muito pelo que eu passei. Lettícia é uma das pessoas mais doces e pacientes que eu conheci, aquele tipo de gente que você se apega e quer levar pra vida inteira. A outra garota é uma canadense chamada Iolanda, super bacana e que mais parece uma professora particular aqui em casa, mas que está indo embora esse mês. Geralmente nos fins de semanas, sentamos para tomar café juntas, a conversa começa e nunca termina. Tem dias que terminamos o café e saímos da mesa quase 5 da tarde, e eu não poderia ter sido mais sortuda com isso.
Aliás, sorte é uma palavra bem filha da puta pra mim agora. As pessoas insistem em dizer que eu tenho sorte. Sorte por ter conseguido emprego, sorte por aprender inglês, sorte por estar aqui, sorte por tudo. Sorte é o caralho né? Isso ai quer dizer ralação. Work hard. Fácil falar da "sorte alheia" com a bunda no sofá. Engraçado é ouvir as pessoas falarem de "oportunidade" como se tivesse caido do céu quando você ralou muito pra algo acontecer.
No mais, estou bem. Ainda não tive nenhuma gripe, virei uma pessoa saudável, perdi peso e estou de volta pro (quase) 36, decidi estudar mais 6 meses enquanto todo mundo vai estar de férias e por fim, desapeguei de muita coisa mas principalmente de pessoas que não querem - e não merecem estar na minha vida.



***
Pai, tia e família, espero que estejam lendo meu texto agora pela surpresa que eu mandei pra casa.
Eu queria estar ai, eu queria ligar mais, eu queria tudo, mas essa foi a forma de dizer: muito obrigada por terem me ensinado todos os valores que eu carrego comigo, obrigada por terem me mudado, obrigada por terem me feito gente decente como vocês são.


Jess 


3 comentários:

  1. Enfim, continua viva, firme e mais forte!

    Boa Leoa!

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  2. parabens coragem,fe e muita forca voce e uma menina muito inteligente voce vai vencer !!! bjusss

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  3. Orgulhoso por você, te admiro demais, nunca vi pessoa com tanta força de vontade para tudo, por isso que tudo de bom que está acontecedo, você merece demais... E sobre a ralação, só se lembre que se fosse fácil não teria graça..

    Best regards from ur old brother,

    Will (Rangel)

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