quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Acredito que entender o conceito de viver seja o mais difícil para o ser humano. A maioria das pessoas que eu conheço passam pela vida correndo, sem se quer olhar pro lado e entender "what's going on". Não estou dizendo que eu entenda, mas acho que o melhor conselho que recebi foi o de não apressar a vida: "take your time and enjoy yourself". Acho que para brasileiros isso é tão complicado de entender. Estamos sempre preocupados em construir algo, entrar no mercado de trabalho, ganhar dinheiro e supostamente ser alguém que acabamos esquecemos realmente de ser alguém. Não culpo a nossa cultura, aliás, acho que brasileiro sabe muito bem como ser feliz... culpo as nossas condições de vida que nos forçam a correr com tudo pra ter um dia a possibilidade de estar com dinheiro o suficiente na conta bancária para nos sentirmos a vontade para relaxar um pouco. É realmente tão mais fácil fazer as coisas no seu tempo quando você pode trabalhar 3 dias por semana e ter dinheiro o suficiente pra pagar as contas. Aqui eu aprendi o conceito de vida. Não sei se tive ou se terei outras, mas é melhor trabalhar com a hipótese que essa é a unica e não descartar um segundo sequer."Que todas as horas desperdiçadas no sofá não sejam vistas com culpa e perda de tempo, e sim com satisfação por ter tempo para si mesmo, que todos os dias de sol sejam aproveitados, dentro ou fora de casa, que todo pequeno detalhe seja visto, qualquer que seja, que todo livro na minha estante seja lido, que todas boas palavras sejam faladas, e que as ruins não sejam guardadas apenas para ter a chance de pedir perdão depois. Que eu conheça pessoas incríveis, que a gente se separe, que a gente se reencontre, que eu mande uma carta, que eu diga o que eu sinto, que a gente chore ao se abraçar pra dizer adeus mas que eu sempre, sempre deixe claro pra essas pessoas que eu eu sinto, que isso não seja uma incógnita, não seja silêncio, que o sentimento nunca pareça indiferença. Que eu nunca esqueça de dizer obrigada, de sorrir só pra fazer o dia de alguém melhor, que eu nunca deixe de dizer o que eu sinto por achar que seja desnecessário. Que eu nunca deixe de olhar pro céu e realmente achar que está lindo, faça chuva ou faça sol. Que por mais difícil que as vezes seja, eu nunca deixe de acreditar, esperar uma resposta. Que o sentimento nunca mude quando for mutuo, mas que mude quando me machuque. Que eu faça outras pessoas rirem. Que a vida continue sendo plena, que dispare meu coração todas as vezes que eu pense nas possibilidades, que me faça sorrir sozinha no meio na multidão só pensando no quão sortuda, boba e esperançosa que eu sou. Que eu espere, aceite e agradeça, mas que eu saiba que outras possibilidades existem e que eu esteja pronta para elas."

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Novo nível, nova roommate, novo carpete, nova nacionalidade... (de novo)


Essa semana parece que veio pra mudar tudo de novo.
Uppers!
Ela começou com uma black monday horrivel, machuquei o pé, não consegui sair da cama, nível de felicidade -10. Esgotei tudo no domingo...
Saímos para comemorar a nossa troca de nível e a combinação de beber no parque+balada me fez chegar as 6:30 da segunda em casa, com o pé deslocado.


Minha nova roommate é uma francesa chamada Marine (pronuncia-se Marrine) e que toda banho todos os dias, graças a deus. Ela é bem tímida e nós conversamos pouco, mas bem calma e simpática. Por enquanto estou só tentando não assustar a garota.

A roommate que estava aqui me deu algumas dicas de pedir pro landlord trocar nosso carpete, comprar um novo aspirador etc. Uma das coisas que mais gosto na Irlanda é que aqui os apartamentos são alugados já decorados e qualquer problema que acontecer é de responsabilidade do proprietário e a lei aqui é bem rigida em quesito de manter o apartamento bom para o locatário. Meu landlord é um Irish estranho que parece que está sempre ansioso ou algo assim, e toda vez que vem não para de perguntar "Are you happy? Are you happy here?" mas que parece bem satisfeito com a maneira que estamos mantendo o apartamento dele e está disposto a comprar o que pedimos. Mandamos email e duas semanas depois os carpetes dos nossos quartos foram trocados, no caso, hoje.
E o serviço Irlandês é bem servicinho: arranca o velho, coloca o novo por cima assim mesmo sem limpar nada, recorta o carpete no formato dos móveis (sim, debaixo dos móveis pesados como guarda-roupa eles não colocam carpete -rápido, fácil, eficiente!), grampeia e pronto. Por baixo tá tudo sujo, mas garanto que por cima tá um xuxu!
Mas serviço bom mesmo é o do nosso janitor, que quando viu a bagunça que a gente fez no corredor veio com o aspirador limpar e fez meu dia super feliz quando me perguntou se eu era canadense! Me fez mais feliz ainda quando reforçou que achou que eu era canadense não pelo cabelo, mas porque eu falo como canadense. Obrigada Brandon, é o upper entrando na minha alma.

Falando em nível, a estrutura das aulas mudaram completamente e eu estou adorando porque eu posso falar o quanto eu quiser, o tempo todo. A aula é dinâmica e a parte da gramatica pesada acabou. A nova professora propôs um tour por uma igreja onde tem múmias e fomos lá ontem!
Foi bem bacana, mas a minha classe parecia um grupo de retardado querendo colocar a mão em tudo quanto que é osso e gente morta, e isso me incluí, claro.
Tem 5 corpos mumificados que podem ser vistos e tocados e cada corpo tem toda uma história. Pra quem tiver interessados em conhecer, a igreja chama St. Michan, e é do lado norte.
As mumificação aconteceu nas tumbas pelo clima muito seco, isso é, os corpos não foram mumificadas propositalmente e acreditasse que os corpos tem de 800 a 400 anos. A lenda é que um dos corpos é o The Crusader, isso porque o corpo se encontra na posição de um cavaleiro das cruzadas e que se você tocar o dedo do meio dele você terá boa sorte. Nem preciso falar que me joguei na simpatia né?!


Jess

terça-feira, 25 de junho de 2013

Já faz tanto tempo...

É, fazem uns 5 meses, ou 6.
Eu devia ter escrito pra família, pra amigos, pra quem quisesse ler, mas eu tava sem saco, sem tempo, sem palavras o suficiente pra escrever.
Aliás, não sei, acho que palavras é algo que nunca me falta, nunca me faltou. Deveria falar menos, escrever menos, e deixar que elas gritassem menos na minha cabeça. Minha mente está sempre produzindo textos profundos para si própria de como eu realmente me sinto. Bons textos, eu juro, mas que na verdade quase nunca vão para o papel.
Mas hoje decidi escrever porque estou nostálgica, porque estou com saudades e porque eu estou confusa. E parte ruim desse intercambio é que na maior parte do tempo você não tem pra quem contar suas conquistas e suas derrotas, você não tem como ligar pro seu amigo de anos e contar seus problemas tomando uma cerveja. Contar as coisas pelo telefone e facebook na verdade me cansa e irrita, sei lá porquê.
Mas amanhã fazem 5 meses que meu passaporte foi carimbado, e daqui 7 meses meu programa acaba. Meu inglês vai muito bem, obrigada. Muitíssimo bem. Nunca imaginei que estaria tão bom em apenas 5 meses, e também nunca imaginei que ouvir de english-speaker "Você está aqui há só 5 meses? Mas como você conseguiu um inglês tão bom? Você já sabia quando chegou aqui né?" fosse tão satisfatório. Talvez eu seja boa nesse negócio de aprender línguas, só nisso né?! E contabilidade.
Mas ai tá, família, amigos: eu bebi, eu fiquei muito doida, eu fui pra festa todos os dias da semana, eu deixei de dormir e fui direto pra aula com a roupa da balada muitas vezes, viajei, conheci gente e me maravilhei com as facilidades da vida européia (e ainda continuo fazendo); e eu estudei, estudei, corri atrás, andei e ando muito tempo pra economizar o dinheiro do ônibus, cuidei de criança fazendo birra até ficar irritada ao ponto de tapar os ouvidos e espirar fundo 20 vezes, lavei e lavo muito prato na água fervente até a mão ficar roxa, inchada e a coluna doer. As unhas bonitas não existem mais, deram espaço pros cortes nos dedos. E ai que comprei tudo o quis.
Antes tava frio o tempo todo, e quando eu digo frio, eu quero dizer frio-para-caralho. Agora tá calor, tipo Brasil quando tá chegando inverno e fica nos 18/20º. Gostoso, mas dá pra ficar suada e isso não é legal, not fun at all. Dá inclusive pra ir pro parque pegar um sol e voltar com marca de camiseta. Me disseram pra aproveitar porque o "verão" aqui não dura muito mais do que 2 semanas...
Verão, saudade do verão, de praia, de boate-sauna, dos meus amigos, da minha família e de quem eu amo. Saudade de carinho, de afeto, de alguém pra contar, de horas de conversa, de confidencias, de olho no olho. Saudade de beber tequila até não enxergar mais nada com as amigas e ficar sóbria de novo, juntas. Saudade da faculdade e da dificuldade da vida. Saudade e ao mesmo tempo a vontade de ficar, e sem ter pra quem perguntar se eu deveria ou não. Muita gente que chegou comigo está indo embora agora, e eu mudo de idéia todos os dias. Posso voltar e continuar tomando no cu na faculdade até terminar, ou posso ficar e começar uma nova aqui - e pagar caro por isso -, mas viver confortável, e longe de todo mundo, e enfiar todos os meus planos que envolviam pessoas do Brasil no saco. Anyway, drama time.
Não vou conseguir atualizar 6 meses de vida em um texto, e acho que nem é isso que queria. Divido apartamento com outras 3 meninas, 2 fixas e 1 que geralmente muda. Kátia é brasileira e em certos pontos muito parecida comigo, ou com o que já fui e o engraçado que quando ela conta o que ela já viveu, se assemelha muito pelo que eu passei. Lettícia é uma das pessoas mais doces e pacientes que eu conheci, aquele tipo de gente que você se apega e quer levar pra vida inteira. A outra garota é uma canadense chamada Iolanda, super bacana e que mais parece uma professora particular aqui em casa, mas que está indo embora esse mês. Geralmente nos fins de semanas, sentamos para tomar café juntas, a conversa começa e nunca termina. Tem dias que terminamos o café e saímos da mesa quase 5 da tarde, e eu não poderia ter sido mais sortuda com isso.
Aliás, sorte é uma palavra bem filha da puta pra mim agora. As pessoas insistem em dizer que eu tenho sorte. Sorte por ter conseguido emprego, sorte por aprender inglês, sorte por estar aqui, sorte por tudo. Sorte é o caralho né? Isso ai quer dizer ralação. Work hard. Fácil falar da "sorte alheia" com a bunda no sofá. Engraçado é ouvir as pessoas falarem de "oportunidade" como se tivesse caido do céu quando você ralou muito pra algo acontecer.
No mais, estou bem. Ainda não tive nenhuma gripe, virei uma pessoa saudável, perdi peso e estou de volta pro (quase) 36, decidi estudar mais 6 meses enquanto todo mundo vai estar de férias e por fim, desapeguei de muita coisa mas principalmente de pessoas que não querem - e não merecem estar na minha vida.



***
Pai, tia e família, espero que estejam lendo meu texto agora pela surpresa que eu mandei pra casa.
Eu queria estar ai, eu queria ligar mais, eu queria tudo, mas essa foi a forma de dizer: muito obrigada por terem me ensinado todos os valores que eu carrego comigo, obrigada por terem me mudado, obrigada por terem me feito gente decente como vocês são.


Jess